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terça-feira, 1 de junho de 2010

fragmento

Da casa onde estava sentado, ele estica o braço direito e aponta o dedo indicador para a inocente menina que se mantinha imóvel enquanto amarrava o cadarço de suas botinhas na calçada. De repente ela levanta sem expressão no rosto, se vira em direção à rua movimentada e fica parada olhando para trás como se estivesse esperando por algo. Até este momento, ainda com o dedo apontado para a garota, ele agora observa a rua movimentada e abre um enorme sorriso quando vê o caminhão vermelho de entregas que se aproxima em alta velocidade. Agora ele olha novamente para a menina , que solta a sacola e sai correndo para o meio da rua. Não houve tempo para o caminhão desviar.
A roda do caminhão, antes suja apenas de lama seca, agora ostentava um aspecto horrendo de carne e sangue fresco pingando no asfalto quente. O motorista, trêmulo e apavorado, não continha as lágrimas de desespero ao ver o cadáver estirado no chão. Sentia culpa, remorso, uma angústia seca e agoniada, levava as mãos ao rosto gordo e engordurado que agora era observado por dezenas de pedestres desviados de suas rotinas. Ouvia gritos de horror, choro, desaforos. Alternava sua visão entre a carne e ossos amassados embaixo da roda de seu inocente caminhão de entregas e os olhares da população enfurecida. No seu cérebro, repetia inconstantemente: “eu tentei desviar, eu tentei desviar, eu tentei desviar...”

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