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quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Gafanhoto

escrito em 12/2004
revisado e modificado em 10/2008

O barulho parecia estar em todos os lugares. Mato adentro, estrada afora. Por onde quer que olhasse, o barulho do gafanhoto na sua demência bêbada e estridente ecoava. Ecoava. Ecoava.
Aproximar-me não pareceu, talvez, nenhum tipo de pretenção contra o gafanhoto. Apenas curiosidade.
Ao procurar no escuro cegamente pelo inseto, pude perceber que já encontrava-me no meio do terreno baldio. Que situação ironicamente assustadora! Que tipo de garota perderia a si própria na tristeza do canto de um gafanhoto?
Se olhasse para o horizonte, não via-se nada alem de um escuro estranhamente vazio. Olhando-se à esquerda, eu via um estábulo feito de madeira velha e visivelmente molhada e mofada. Se virava-se à outra direção, poderia ver com facilidade um portão feito da mesma madeira. Observando tamanha beleza tétrica, das quais só se vê em ambientes noturnos e úmidos como era a situação, talvez esqueci-me do mais importante, da minha amarga busca ao inseto errante - preocupei-me mais com minha mente tão errante quanto. Menina burra, menina estranha!
Ao prestar atenção no som, pude constatar que o animal talvez encontrava-se perto do estábulo. Aproximei-me mais, pisando na grama gelada com minhas meias soquete, sentindo meus pés umedecerem a cada passo. O som estava mais alto. Valia a pena. Já não era mais uma futilidade infantil: agora era uma meta, um objetivo a ser seguido. Estava quase. Agora eu já via claramente as plantas mortas e secas prendendo-se na madeira, como num pedido sufocado de vida. Cheguei perto. Parecia-me que o som realmente vinha dali, estava ficando mais alto. Olhei pra trás, num impulso: o som também vinha de lá. Vinha de cima, de baixo, de todos os lados! Senti que estava afogando-me no som agudo e pausado, senti que estava viciando-me nele, um vicio sufocante! Caí no chão num baque seco - parecia-me que todo meu ar havia acabado e que meu sangue havia endurecido de medo. De todo aquele misto de sensações, a que prevalecia superior era a agonia, o sentimento de ir lentamente queimando-se de dentro pra fora, de ir morrendo! Não havia com escapar de lá, não havia como escapar do pensamento, de si mesmo! O som não vinha da grama, de longe, do estábulo: estava em todos os lugares, no meu cérebro e nos meus pensamentos, em cada detalhe da minha personalidade, era a minha vida e a minha morte.
o objetivo inalcançável de atingir um som intracelular fazia-me contorcer em mim mesma, gritava e não emitia nem um suspiro... estava dentro da minha mente!

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